21 de fev. de 2010

6. Novos Horizontes da Ciência.

A ciência nos ensinou que, contrariando toda a intuição que a evolução criou, coisas aparentemente sólidas como cristais e rochas são na verdade compostas quase totalmente de espaço vazio. A ilustração mais comum é a que representa o núcleo de um átomo como uma mosca no centro de um estádio de futebol. O próximo átomo está fora do estádio. A rocha mais dura, mais sólida, mais densa, "na verdade" é quase só um espaço vazio, interrompido apenas por partículas minúsculas tão longe umas das outras que nem deveriam contar. Então porque as rochas parecem tão sólidas e duras e impenetráveis?

Nosso cérebro evoluiu para ajudar nosso corpo a se virar no mundo na escala em que esse corpo funciona. Nunca evoluímos para navegar no mundo dos átomos. Se tivéssemos, talvez nosso cérebro percebesse as rochas como coisas cheias de espaços vazios. As rochas parecem duras e impenetráveis para nossas mãos porque nossas mãos não conseguem penetrá-las. O motivo pelo qual elas não podem penetrá-las não tem nada a ver com os tamanhos e as separações entre as partículas que constituem a matéria.Tem a ver, sim, com os campos de força associados a essas partículas tão distantes entre si na matéria "sólida". É útil para nosso cérebro construir noções como solidez e impenetrabilidade, porque essas noções ajudam-nos a navegar com nosso corpo por um mundo no qual os objetos - que chamamos sólidos - não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo.

Nosso cérebro não está equipado para imaginar como seria ser um neutrino que atravessa uma parede, nos vastos interstícios de que a parede "na verdade" consiste. Assim como nosso entendimento não consegue captar o que acontece quando coisas se movem à velocidade da luz. A intuição humana acha até mesmo difícil acreditar em Galileu quando ele nos diz que uma bala de canhão e uma pena, sem o atrito do ar, atingiriam o chão no mesmo instante se lançadas de uma torre inclinada.

"Na verdade" não é um termo que devemos usar com confiança. Se um neutrino tivesse um cérebro que houvesse evoluído em ancestrais do tamanho de neutrinos, ele diria que as rochas "na verdade" consistem em grande parte de espaços vazios. Temos um cérebro que evoluiu em ancestrais do tamanho médio, que não eram capazes de atravessar rochas, portanto nosso "na verdade" é um "na verdade" no qual as rochas são sólidas. "Na verdade", para um animal, é aquilo que seu cérebro precisa que seja, para ajudá-lo a sobreviver. E, como espécies diferentes vivem em mundos tão diferentes, haverá uma variedade perturbadora de "na verdade".

Nossos olhos enxergam o mundo através de uma fenda estreita no espectro eletromagnético. A luz visível é uma fresta de brilho no vasto espectro escuro, de ondas de radio, no espectro curto, aos raios gama, no espectro longo.



É difícil imaginar quão estreita ela é, e um desafio explicar. Imagine uma burca negra gigantesca, com uma fenda para a visão de aproximadamente 2,5 cm. A janelinha de 2,5 cm de luz visível é ridiculamente minúscula comparada aos quilômetros e quilômetros de tecido negro que representam a parte invisível do espectro, das ondas de radio na barra da saia aos raios gama do alto da cabeça. O que a ciência faz para nós é alargar a janela. Ela se abre tanto que a vestimenta aprisionante quase que se rasga totalmente, expondo os nossos sentidos a uma liberdade revigorante.

Somos cidadãos do Mundo Médio resultantes da evolução, e isso limita o que somos capazes de imaginar. A abertura estreita de nossa burca só permite, a menos que sejamos superdotados ou peculiarmente instruídos, que vejamos o Mundo Médio.

O que vemos do mundo real não é o mundo real intocado, mas um modelo do mundo real, regulado e ajustado por dados sensoriais - um modelo que é construído para que seja útil para lidar com o mundo real. A natureza desse modelo depende do tipo de animal que somos. Um animal que voa precisa de um modelo de mundo diferente do de um animal que anda, que escala ou que nada.

A metáfora do Mundo Médio - da faixa intermediária de fenômenos que a abertura estreita de nossa burca permite-nos enxergar - aplica-se a outras escalas. Em um extremo do espectro de improbabilidades estão aqueles acontecimentos que classificaríamos como impossíveis. A ciência abre à força a estreita fresta através da qual estamos acostumados a enxergar o espectro de possibilidades.

Numa extraordinária variedade de disciplinas cientificas, é exatamente isso o que está atualmente ocorrendo. Um numero cada vez maior de fenômenos anômalos está vindo à luz na cosmologia física, na física quântica, na biologia evolutiva e na biologia quântica, e no novo campo das pesquisas sobre a consciência. Eles criam incertezas crescentes e induzem os cientistas de mente aberta a olhar para além das fronteiras das teorias estabelecidas. Enquanto os investigadores conservadores insistem na suposição de que as únicas idéias que podem ser consideradas científicas são aquelas publicadas em periódicos científicos estabelecidos e reproduzidas em manuais-padrão, os pesquisadores de vanguarda procuram conceitos fundamentalmente novos, inclusive alguns que foram considerados inaceitáveis pelas suas disciplinas há apenas alguns anos.


Em um numero cada vez maior de disciplinas o mundo está se tornando progressivamente mais fabuloso. Ele é suprido com matéria escura, energia escura e espaços multidimensionais na cosmologia, com partículas que se encontram instantaneamente conectadas ao longo de todo o espaço-tempo em níveis mais profundos da realidade na física quântica, com matéria viva que exibe a coerência dos quanta na biologia, e com conexões transpessoais independentes do espaço e do tempo nas pesquisas sobre a consciência.